Éden
May 30, 2016
Há o Silêncio.
Não a ausência de ruído, o oco de reverberações a encher o espaço com o Nada. Há o Silêncio: a voz pausada da Natureza espalhando no ar a anunciação do Tudo; o contínuo som carregado pelo vento quando a voz das gentes se ausenta.
Há o canto dos pássaros, simbiose ancestral com o Silêncio na completude de discursos; na justaposição de conversas, cada um conta de si na serenidade do tempo perpétuo - aos pássaros, à Natureza não há para onde irem, posto que já estão.
Há o Sol e sua prolixa fala de luz e calor, a incansável exibição de si aos mundos enquanto os assiste vagarem ao seu redor na resignação cega de órbitas servis. Às vezes, a falta de domesticação de uma nuvens as coloca na frente do Sol, escondendo-lhe a majestade amarela e criando na terra a escura e muda fala das sombras.
Há o Céu, vestido com a azul convicção da qual não se cansa, levando a cor única de suas vestes até um limite que, uma vez alcançado, estica-se para além e mais além.
Há uma montanha, côncava verdidão a apontar-se ao Céu em dividida reverência, visto alongar as faces de seus costados na direção das terras que a rodeiam.
Em verdade, há muitas montanhas. Há uma fileira delas, ombreadas umas às outras numa monocrômica sequência verde a disputar limites com a azul monocromia do Céu.
As montanhas são um verde mar, crispado em uma turbulenta Era e que, sem aviso ou espera para que se acalmasse, teve suas ondas congeladas.
E agora, desconhecidas da irrelevância do tempo, entregues solenemente ao Tempo, as montanhas, e tudo o mais que resiste, ouvem, dentro da claridade das dias e da escuridão das noites, o Silêncio.